LEGADO
A visão de que diversidade é uma potência econômica e cultural esteve no centro do projeto desde o início
Preta Gil se tornou uma influência nos bastidores das celebridades (Foto: Divulgação)
A trajetória de Preta Gil ultrapassou os limites dos palcos e das câmeras. Muito antes da luta pública contra o câncer, que mobilizou o país, a artista carioca já travava outras batalhas: contra o racismo, a gordofobia, o machismo e o silenciamento de vozes dissidentes dentro da indústria cultural. A filha de Gilberto Gil não resistiu ao tratamento e morreu na noite deste domingo (20), aos 50 anos.
Uma das maiores expressões desse enfrentamento foi a fundação da agência Mynd, criada por ela em parceria com a executiva Fátima Pissarra e do empresário Carlos Scappini. A empresa se consolidou como uma das maiores do país no segmento de marketing de influência, gestão de imagem e publicidade digital voltada para a diversidade.
Fundada em 2017, a Mynd surgiu a partir do desejo de Preta, Fátima e Scappini em construir um espaço onde artistas e criadores fora dos padrões tradicionais pudessem protagonizar campanhas publicitárias e ocupar espaços com liberdade. A visão de que diversidade é uma potência econômica e cultural esteve no centro do projeto desde o início.
Preta Gil promoveu um mercado para os invisíveis
Sob a liderança de Preta e da dupla de parceiros, a agência se transformou numa plataforma estratégica para amplificar vozes negras, LGBTQIA+, gordas, periféricas e femininas. Enquanto grandes agências ainda tratavam diversidade como nicho, a Mynd a transformou em valor central. Isso se refletiu tanto nos nomes que passaram a compor o casting da empresa quanto nas campanhas publicitárias que passou a gerenciar para grandes marcas.
Entre os artistas e criadores agenciados pela Mynd estão nomes como Pabllo Vittar, Gaby Amarantos, Linn da Quebrada, Tia Má, Pequena Lô, além do trio Gilsons, liderado por Francisco Gil, filho de Preta.
A empresa também produziu campanhas com forte impacto social, como ações de combate à gordofobia com marcas de moda e beleza, campanhas LGBTQIA+ durante o Mês do Orgulho e ações afirmativas voltadas para o público negro, sempre com protagonismo dos próprios artistas.
Publicidade com propósito
A atuação de Preta Gil como empresária ajudou a provocar mudanças no discurso do mercado. A Mynd defende que marcas não devem apenas incluir, mas investir estruturalmente em quem foi historicamente excluído. Essa lógica se refletia na construção de campanhas desde o briefing até a seleção de influenciadores e roteiros, com um crivo ético e político incorporado às decisões da empresa.
A abordagem rendeu à Mynd o reconhecimento como uma das empresas mais inovadoras em comunicação inclusiva no Brasil, sendo convidada por multinacionais como Google, Avon, Ambev e Natura para liderar projetos e consultorias com foco em diversidade.